Bunker está sendo construído no Paraná

Notícias 5 de novembro de 2025

No Paraná, a edificação de uma sala de radioterapia extremamente reforçada vem chamando a atenção não apenas pela complexidade estrutural, mas também por ser um marco para a engenharia e para a arquitetura hospitalar brasileira. O projeto está sendo executado na Santa Casa de Ponta Grossa e reúne características raras em obras de saúde, como o uso de 760 m³ de concreto armado e, surpreendentemente, 30 toneladas de gelo inseridas na mistura para controlar a temperatura de cura.

Então para quem trabalha com projetos de arquitetura e interiores, e em especial nos âmbitos de edificações com requisitos técnicos especiais, essa obra traz várias lições importantes: desde o controle térmico na concretagem, até a espessura das paredes (2,20 m em alguns trechos) para contenção de radiação.

Um bunker está sendo construído no Paraná

A seguir, serão detalhados os aspectos arquitetônicos e estruturais mais relevantes, os desafios tecnológicos, o impacto para a região e os aprendizados que podem ser aplicados em futuros projetos com requisitos de alta segurança.

Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de Radioterapia – imagem Solucta

O que exatamente está sendo construído no bunker

A obra consiste na edificação de um bunker de concreto armado que, juntamente com a transformação e reforma do antigo edifício do Hospital Evangélico de Ponta Grossa (fechado desde 2016), fará parte de um novo complexo hospitalar que será referência em oncologia para a região dos Campos Gerais.
Contudo esse bunker vai abrigar um acelerador linear com inteligência artificial, destinado ao tratamento de câncer, tecnologia inédita na América do Sul.
Por isso, o nível de exigência estrutural, de estanqueidade e de segurança desse ambiente é muito elevado.

Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de comando – imagem Solucta

“Criar um bunker de radioterapia vai além da funcionalidade: cada detalhe é pensado para transformar o espaço de tratamento em um ambiente acolhedor e seguro. O foco não é só a eficácia do tratamento, mas também o conforto e o cuidado com quem passa por momentos delicados.“

Solucta
Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de Radioterapia – imagem Solucta

Detalhes principais do bunker da Santa Casa de Ponta Grossa

Para entender a grandeza técnica da obra, vale destacar os pontos mais relevantes:

  • Aproximadamente 760 m³ de concreto foram utilizados na construção do bunker.
  • Mais de 95 viagens de caminhão foram necessárias para o transporte dessa quantidade de concreto.
  • As paredes e lajes alcançam 2,10 metros de espessura garantindo a contenção adequada da radiação.
  • 30 toneladas de gelo foram adicionadas à mistura para para evitar fissuras e compensar o calor gerado durante o processo de cura.
  • O investimento total ultrapassa 20 milhões de reais
  • Cerca de R$ 8,4 milhões foram destinados à obra civil
  • Mais de R$ 12 milhões foram investidos em equipamento.

Esses números deixam claro que se trata de um dos maiores empreendimentos hospitalares já executados na região, com impacto direto na qualidade do tratamento oferecido aos pacientes e na ampliação da capacidade de atendimento.

Aspectos estruturais e construtivos que me chamam atenção do bunker

Como arquiteta e profissional que atua com projetos arquitetônicos e de interiores, normalmente em edificações residenciais, mas também em empreendimentos mais complexos considero relevante destacar alguns pontos importantes para quem trabalha com edificações de uso especial. Aqui estão os aspectos que julgo mais significativos:

Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de Radioterapia – imagem Solucta

Controle térmico da concretagem

Adicionar 30 toneladas de gelo à mistura pode parecer algo inusitado mas faz sentido técnico. O concreto gera calor ao hidratar; se a temperatura interna subir demais, ocorrem tensões térmicas e microfissuras que comprometem a densidade e a estanqueidade da estrutura.

“A gente precisou utilizar cerca de 30 toneladas de gelo durante a concretagem para evitar a retração do concreto – para não elevar a temperatura, a gente coloca gelo para controlar a retração””.

Engenheira Civil Luani Cristini Basso Faversani


Em um bunker que precisa conter radiação, qualquer fissura compromete a segurança. Então, para quem fizer projetos semelhantes, vale observar: controle de temperatura, cura adequada, monitoração de umidade, e densidade do concreto são tão críticos quanto o próprio dimensionamento.

“Projetar um bunker de radioterapia do zero foi um dos nossos maiores desafios e também um dos mais gratificantes. Em apenas dois meses, desenvolvemos todos os projetos, seguindo rigorosamente as normas do Conselho Nacional de Energia Nuclear, Vigilância Sanitária e Corpo de Bombeiros. Cada detalhe foi planejado para unir precisão técnica e acolhimento, criando um espaço seguro, eficiente e humano. Este será o lar do acelerador linear mais moderno da América do Sul, um avanço que transforma o tratamento contra o câncer em esperança e cuidado.“

Solucta

Espessura das paredes e densidade do concreto do bunker

Paredes com até 2,10 m de espessura indicam que o concreto utilizado não é o convencional. Além disso trata-se de um concreto pesado, ou de alta densidade, especialmente projetado para garantir a blindagem radiológica.

“O concreto, nessa obra, tem um controle rigoroso. Ele precisa ser denso; tem uma densidade mínima que ele precisa atingir para a radiação ‘bater’ na parede e ficar dentro da sala, não sair”.

Engenheira Civil Júlia Senger Marin


Do ponto de vista arquitetônico e de interiores isso implica em algumas consequências:

  • A planta do bunker ocupa espaço considerável, afetando o resto da edificação.
  • A interface entre interior/exterior (ou vizinhos) precisa ter detalhamento para vedação e controle de vibração/ruído.
  • Revestimentos, portas blindadas, antecâmaras, sistemas de ventilação e monitoramento fazem parte do que o arquiteto deve contemplar, não só paredes e lajes.
Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de Radioterapia – imagem Solucta

Interface entre arquitetura hospitalar e engenharia especializada

Então não se trata apenas de erguer paredes grossas e colocar equipamento caro. Mas sim em criar um ambiente hospitalar altamente especializado, que exige conformidade com normas de ventilação (considerando radiação, gases e dispersão de feixe), acessibilidade, conforto para pacientes, fluxos seguros, áreas de espera adequadas, circulação organizada de profissionais e espaço para manutenção técnica, entre outros requisitos.

Por isso, esse tipo de obra reforça uma lição fundamental: em projetos arquitetônicos especializados, é essencial antecipar os requisitos técnicos, Isso inclui a radioproteção, os sistemas de climatização, ventilação e monitoramento já na fase conceitual, evitando retrabalhos e conflitos entre disciplinas durante a execução.

Impactos e relevância para a região

Essa obra não é apenas interessante do ponto de vista técnico e arquitetônico ela tem impacto social e regional significativo ou seja muitas pessoas serão beneficiadas.

  • Contudo a nova estrutura ampliará a capacidade de atendimento oncológico da região: a expectativa é passar para mais de 7.000 consultas e mais de 2.000 procedimentos por mês para pacientes de 28 cidades da região.
  • A implantação de tecnologia inédita na América do Sul coloca Ponta Grossa como um polo de saúde avançada. Isso atrai visibilidade, recursos e pode impulsionar melhorias urbanísticas, de infraestrutura e de qualificação profissional.
  • Então para arquitetos e urbanistas, a oportunidade é observar como edificações de saúde de alta complexidade interagem com tecido urbano, acessos, transporte de pacientes, sobrecarga de serviços, logística de obras com concreto pesado, transporte de materiais, etc.
Bunker está sendo construído no Paraná
Bunker – Sala de Radioterapia – imagem Solucta

Lições para quem trabalha com projetos arquitetônicos ou interiores

Como alguém que trabalha com arquitetura residencial e interiores há mais de cinco anos, eu extraio algumas lições que se aplicam também em escala menor:

  • Mesmo em projetos “comuns”, o controle das etapas construtivas (como concretagem, cura, retração) faz diferença para a durabilidade e desempenho. Mas aqui, em escala mais robusta, essa atenção é ampliada.
  • Projetar para contingências técnicas (como radiação, vibração, ruído) exige colaboração interdisciplinar: arquitetura, engenharia estrutural, HVAC, acústica, radioproteção. Para projetos de interiores complexos (salas de conferência, home-office, estúdios, etc) também vale envolver esses especialistas cedo.
  • O detalhamento de arquitetura hospitalar ou de uso especializado pode inspirar interiores residenciais ou corporativos que visem longevidade, qualidade ambiental e performance técnica (por exemplo: uso de concreto aparente tratado, sistemas de vedação robustos, ventilação controlada, materiais com baixa manutenção).

Considerações finais

Essa obra da Santa Casa de Ponta Grossa evidencia que a arquitetura e a engenharia avançam em conjunto, e que edificações com requisitos especiais como blindagem radiológica, cura térmica do concreto, uso de gelo, densidade especificada, não são exceção são cases que trazem aprendizados para todos os níveis de projeto.
Para mim, como arquiteta, me chama a atenção como uma obra hospitalar deste tipo exige planejamento, disciplina construtiva, e integração técnica. Isso reforça a importância de estarmos sempre atualizados com técnicas construtivas que vão além do “acabamento bonito” e atendem à performance real de edifícios.

Lais Basso

Arquiteta e Urbanista formada há mais de 5 anos, especialista em projetos residenciais e interiores.

Comentários